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  • Foto do escritorFederação Nacional dos Estudantes dos Cursos do Campo de Públicas

Mobilidade Acadêmica: perspectivas, experiência e aprendizado

*Jéssica Sabatine


Em 2014, um casal de amigos fez mobilidade acadêmica e me apresentaram mais essa beleza que a Universidade promove. Havia em mim um desejo antigo de sair de casa, mas que não havia sido concretizado por impossibilidades financeiras e falta de “desculpa familiar”, então vi na Mobilidade uma ótima oportunidade, mas que perdia força pelo fato de eu namorar na época e viver uma relação bem diferente do que eu acredito que seja saudável hoje em dia.


Quem me conhece sabe a intensa relação que possuo com o nordeste brasileiro, seu povo, cultura, força, sotaque, comida e belezas naturais. Além disso, sempre acreditei que ninguém nasce igual, as oportunidades não são as mesmas para as pessoas e algumas tem que lutar muito mais para conseguir atingir seus objetivos que outras. Ou seja, pra mim sempre foi muito claro que regiões como o Norte e Nordeste de Minas Gerais e do Brasil as pessoas nascem como o dever de serem mais fortes, já que políticas estatais chegam nesses locais com muito mais escassez que nas outras.


Sempre me encantou a coragem e determinação dessas pessoas, a começar pela minha família materna que enfrentou vários desses problemas citados e que, mesmo assim, vive de uma forma muito intensa e alegre. Eu, que sempre acreditei que essas discrepâncias pudessem ser diminuídas com a atuação do Estado, me senti mais motivada a conhecer a Gestão Pública desses locais e o ENEAP Rio em 2014 me fez conhecer a UFCA, Federal do Cariri que me encantou por ser uma Instituição de ótima qualidade e não estar localizada em um município litorâneo, onde, com certeza, a atuação pública é menor ainda. Atrasei muito meu curso pra não ter perigo de ter alcançado os 75% antes de conseguir fazer a Mobilidade.


Após o ENEAP Rio, entrei de cabeça no Movimento do Campo de Públicas, eu, que vinha do Movimento Estudantil de forma mais ampla e não conseguia ver muita mudança ou atuação a partir das Entidades que fiz parte, vi, na FENEAP, uma atuação mais específica que me agradou mais. Em 2015, nas eleições do que seria a Gestão que faria parte, também foi eleito o 1º ENEAP no Nordeste e aquilo me encantou, em especial a atuação da COERN, no qual sempre estive próxima tentando ajudá-los a construir um Encontro Nacional épico (que o foi). O fato de me aproximar da COERN me fez enxergar o quanto Natal seria uma ótima cidade pra se morar: litorânea (já que sou imensamente apaixonada pelo mar), baixo custo de vida, nordestina e com pessoas espetaculares.


Quando percebi essas características, logo corri atrás dos editais de Mobilidade (da UFMG e da UFRN), e tudo aconteceu muito rápido com o fim de um namoro no final de 2015 e após conhecer mais de perto a região com a ida pro ERECAP Nordeste no Cariri, em Abril de 2016, evento que me proporcionou visitar os Centros Acadêmicos da UFRN, IFRN, UFPB, UNILAB e UFC.


Sei que, quando me vi, estava abrindo mão de um estágio que sempre sonhei (na Secretaria de Estado de Esportes) e de todo conforto familiar (que só percebi que era bem maior quando estava longe) pra ir, sem casa, emprego e qualquer tipo de ajuda universitária para viver a mais de 2.300 km de distância.


Pouco depois do aceite de ambas as Instituições, ocorreu o falecimento de um tio, o filho mais velho da minha avó o que abalou emocionalmente as pessoas próximas de mim. E, um mês antes da minha ida, meu primo, que já havia morado comigo, o mais alegre e bondoso que conheci foi brutalmente recebido pela Polícia Militar com um tiro na cabeça na porta da sua casa, isso sim desmoronou qualquer tipo de estrutura que existia na minha família. Fui pra Natal mesmo assim e 15 dias depois recebi a notícia de sua morte e, desde então me vi em um estado depressivo que ainda não passou. Sei que não pude ir ao enterro, já que as passagens estavam absurdamente caras e, tenho certeza, que se tivesse ido, não voltaria pra Natal e minha maior vontade era sair do curso, já não suportava a ideia de trabalhar o resto da vida para um Estado que assassina minha família por causa da cor da sua pele, local onde mora, roupa que se veste e quantidade de dinheiro que se tem no bolso.


Pouco antes disso, uma semana antes de mudar, percebi que o acordo que tinha feito com amigas de morarmos juntas, tinha ido por água abaixo e me vi mais fo&5$# (isso mesmo) ainda, já que todas as dezenas de currículos que tinha enviado para emprego não havia dado certo. Mas fui carinhosamente recebida por 1 mês na casa de uma amiga, que me ajudou durante todos os 141 dias em que estive em terras potiguares.

Acompanhei de perto, vi a organização e a realização de um dos maiores ENEAP´s da história do Campo de Públicas, me motivando a fazer parte da Comissão Organizadora do Encontro de 2018, em Minas Gerais.


Enfim, as aulas começaram de fato e a estrutura física da Instituição era fantástica!

Venho de uma Universidade extremamente academicista, o que nada me agrada, já que possuo um viés mais burocrático e prático, e o que mais me surpreendeu foi a disciplina de Ateliê do curso, matéria essa que se tem em todos os períodos e que faz com que os Gestores de Políticas Públicas saem da UFRN com total capacidade prática para elaboração, implementação e avaliação de um projeto estatal.


Quando comprei, de fato, minha passagem de volta, ninguém acreditou, todos tinham apostado que não voltaria do Nordeste tão cedo, mas não aguentava mais de saudade da minha família, da minha cachorra latindo a noite, da comida mineira e até do meu sotaque (que nunca achei que tivesse, risos).


Fui com o objetivo de estagiar no setor público e conhecer a Gestão Pública local, mas minhas experiências com as camadas da população de Natal me mostraram muito mais da presença discrepante do Estado em cada uma do que a máquina pública poderia me mostrar.


Sem dúvidas, aquela experiência que, para muitos, seria acadêmica, pra mim foi também profissional e pessoal. Voltei do Rio Grande do Norte muito mais sensível às causas sociais, entendendo mais ainda a importância da prática na academia e valorizando como nunca minha família, uma cama ou algo diferente no armário.

Eu fui para mais de 2 mil quilômetros de distância, sem bolsa, sem auxílio, mas para você, que busca qualquer tipo de experiência a mais, vale MUITO a pena, dá pra continuar dentro do seu estado, ir com ajuda de custo e não passar tantas dificuldades, apesar de acreditar que elas me ajudaram muito nesse trajeto.


Coloco-me a disposição para tirar dúvidas, auxiliar nos editais e até nos contatos com as Instituições de interesse para que os estudantes possam crescer e amadurecer tanto quanto eu nesse processo.


jesssabatine@gmail.com

(31) 9 7305-6902


*Jéssica Sabatine é graduanda em Gestão Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), atualmente participa da COEMG e fez mobilidade acadêmica na Universidade Federal do Rio Grande do Norte de julho a dezembro de 2016.







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